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Pedro Pacheco


João Pedro Pacheco pintor poeta e pescador de AlvorAs pessoas de Alvor são encantadoras.  
Num dos meus passeios ao longo do rio,
encontrei o sr. Pedro Pacheco, pescador acolhedor,
que me recitou um seu poema:

 

 

 

Liberdade liberdade,
Que não há tempo põe-se a chorar
Já não há liberdade
Para o pescador andar ao mar
Um dia ao mar fui, em pequeno
A minha vida foi o mar
Tenho noites que não durmo
Não me dá tempo para sonhar
Já deixei de andar ao mar
Com desenganos e enganos
Agora chegando aos oitenta anos
deram-me duas multas de seguida
Uns dizem que está bem,
Dez dizem que está mal
Para encherem o meu sapatinho
Deram-me duas multas para o Natal
Tô no barco a trabalhar
E qualquer barco que vejo
Me assusta
Tenho medo que seja a vededa
Que me venha dar outra multa
Estou no mar a trabalhar,
Cheio de sustos e de horrores
Não se pode andar ao mar
por causa dos superiores
Não sei ler nem escrever,
Nem sequer pegar numa caneta
Não se pode trabalhar
Só por causa da vedeta
Andei no mar de pequenino
Já cortaram-me o caminho
Não me deixaram trabalhar
Até chegar a velhinho
Este mundo está perdido
Tá, Tá...
Choram os anjos do Céu
Todos têm que morrer
Ninguém leva o Chapéu
Se não se culpa a Eles
culpa-se a CEE.
Se assim continuar
Se há almoço, não há café
Deitem foguetes ao ar
Que a festa vai começar
Nesta Leva, Leva, Leva
Aonde é que o país vai parar
Na idade que já tenho
Já nada me mete medo
Eu nasci em Alvor
E meu nome é João Pedro.

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Trigueirinha

Oh trigueirinha agora agora,         
Oh trigueirinha agora já

Se eu te apanhasse aqui sózinha,
Oh trigueirinha,
Minha linda bonequinha,
Dava-te um beijo agora já.

Pedro Pacheco

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Sou poeta

Sou poeta esquecido
E será a minha sina.
Sou poeta esquecido
Não há ninguém
Que me ensina.
Tenho as mãos
Tão calejadas,
Faz cortar o coração.
Da minha mulher
Que canta bem,
A Maria da Conceição

Pedro Pacheco

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As gaivotas

As gaivotas da Ribeira
Todas elas são branquinhas
Ficam todas satisfeitas
Quando o Anibal lhes dá sardinhas.

Adeus ribeira de Alvor
Cercada de água salgada
És bonita, ladina e vaidosa
Com o tempo, vais ser adorada.

Pedro Pacheco

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Muito faz o pai ao filho

Muito faz o pai ao filho
Faz o que ele não merece
Nada faz o filho ao pai
Que não seja por interesse
Acaba o filho de nascer
O seu pai já não descansa
Anda sempre a ver como alcança
Para ao filho pôr de comer
Descanso não pode ter
Enquanto não o vêr no bom trilho
Muito faz o pai ao filho
Faz o que ele não merece
Nada faz o filho ao pai
Que não seja por interesse

Pedro Pacheco

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Quando Fui para o Brasil

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Quando fui para o Brasil,
Levei-te no pensamento
Tu te esqueceste de mim
Mulher em tão pouco tempo.
Logo mesteste um amante
Pelas minhas portas a dentro

Não venhas com disparates
Do Rio de Janeiro
Se não querias que eu picasse
Mandasses para cá dinheiro
Se me tinhas amizade
Mostrasses ser cavalheiro

Quando eu fui para o Brasil
Levei-te no pensamento
Tu te esqueces de mim
Mulher em tão pouco tempo
Logo mesteste um homem
Pelas minhas portas adentro

Pois meu rico marido
A lição que eu aprendi
Quando eu caí por outro
Mil vezes me arrependi
Se eu mereço ser morta
Mata que eu estou aqui

Quando eu fui para o Brasil
Levei-te no pensamento
Tu te equeces de mim
Mulher em tão pouco tempo
Logo meteste um homem
Por minhas portas a dentro

Olha lá querido marido
Recordo no pensamento
Os beijos e abraços
Que me davas por algum tempo

És o diabo em fúria
Que me andas a perseguir
As mulheres têm um encanto
Para os homens atrair
E ainda fazes com que torne
Aos teus braços cair.
Ai meu Deus dos Altos Céus
Custa-me querer crer
Como tive habilidade
De a voltar a convencer
Com os carinhos e afagos
Que as mulheres costumam ter.

Pedro Pacheco

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